Rússia - Entre sua Tradição Imperial e o Futuro Soberano



A Rússia é uma nação que nunca coube nos moldes alheios. De Moscou às estepes da Sibéria, passando pelo Cáucaso, pelos confins do Ártico e pelas planícies do Volga, o país ergue-se como mais do que um Estado, uma civilização. Tentar enquadrá-la nos parâmetros econômicos e culturais do Ocidente é não compreender sua natureza, sua história e seu papel no mundo.

Sim, a Rússia possui o maior arsenal nuclear e os mísseis hipersônicos mais avançados do planeta. Mas reduzir a grandeza russa ao seu poder militar seria ignorar tudo o que ela representa. A Rússia é também Dostoiévski e Tchaikovsky, é a engenharia espacial que levou o primeiro homem ao espaço, é a literatura que atravessou séculos e continentes. É o legado da vitória sobre o nazismo, e também a reconstrução de um país que caiu, levantou-se e segue avançando em meio a bloqueios, sanções e desafios.

A economia russa, ao contrário do que muitos esperavam, não colapsou — adaptou-se. Mais do que exportadora de energia, a Rússia tem se reindustrializado, inovado e desenvolvido tecnologias próprias, desde a medicina até a computação quântica, passando pela aviação e pela robótica militar. Os embargos não a isolaram: aceleraram sua busca por soberania. A agricultura floresceu. A indústria renasce. As universidades se fortalecem.

Enquanto o Ocidente enfrenta crises de identidade, a Rússia investe no seu tecido social. Resgata valores civilizacionais e cristãos, incentiva a família tradicional, promove uma visão de mundo centrada na continuidade, na memória e na transcendência. Sua população enfrenta desafios demográficos — como em todo o mundo —, mas com uma direção clara: proteger a natalidade, a cultura e a coesão do seu povo europeu e asiático.

A desigualdade social, embora presente, é menor do que em muitas nações ricas. O cidadão russo médio tem acesso a educação superior gratuita, moradia estatal subsidiada e energia barata. A vida pode não ser fácil nas regiões mais geladas ou remotas, mas há uma dignidade silenciosa, uma resiliência moldada por séculos de resistência.

Culturalmente, a Rússia é um universo próprio. Do balé à ciência, da filosofia à arte iconográfica, ela não copia: ela cria. Seu soft power é discreto, porém firme, e começa a reconquistar espaço à medida que mais pessoas se perguntam se o modelo ocidental realmente é o único possível.

Sob à liderança de Vladimir Putin, a Rússia não é um país que vive para agradar, competir ou curvar-se. É uma potência que escolheu o seu próprio caminho, com erros e acertos, mas com a coragem de ser autêntico. E talvez seja justamente isso que incomoda tantos: o fato de que, mesmo diante da tempestade, a Rússia ainda caminha, não como satélite de ninguém, mas como uma estrela própria, fria e brilhante, num céu onde poucos ousam brilhar sozinhos.


Célio Azevedo.