'Ainda Estou Aqui' faz história e conquista o primeiro Oscar para o Brasil como Melhor Filme Internacional

Por Célio Azevedo:


Ainda Estou Aqui:

 

O cinema brasileiro alcançou um marco histórico na noite deste domingo (2), com a vitória de Ainda Estou Aqui na categoria de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar® 2025. A produção, dirigida por Walter Salles, é a primeira do Brasil a conquistar a estatueta mais cobiçada do cinema mundial, consolidando o talento nacional na sétima arte.

A cerimônia, realizada no Dolby Theatre em Los Angeles, consagrou o longa baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, que narra a luta incansável de Eunice Paiva — advogada e ativista — para descobrir a verdade sobre o desaparecimento de seu marido, Rubens Paiva, durante a ditadura militar no Brasil. A personagem foi interpretada com brilhantismo por Fernanda Torres, ao lado de Fernanda Montenegro, que também deu vida à trajetória dessa mulher símbolo de resistência.

Durante o discurso emocionante ao receber o prêmio, Walter Salles destacou a importância da narrativa para o resgate da memória histórica brasileira.

"Em nome do cinema brasileiro, é uma honra tão grande receber isso de um grupo tão extraordinário. Isso vai para uma mulher que, depois de uma perda tão grande no regime tão autoritário, decidiu não se dobrar e resistir... Esse prêmio vai para ela: o nome dela é Eunice Paiva", declarou o cineasta, arrancando aplausos da plateia.

A vitória coroa uma trajetória de reconhecimento internacional, após o filme ter sido premiado em festivais como Berlim e Toronto. O prestígio internacional da obra reforça a importância do audiovisual como ferramenta de memória e resistência.

 

Legado familiar


Além da vitória na categoria de Melhor Filme Internacional, Ainda Estou Aqui concorreu a outras duas categorias: Melhor Atriz, com Fernanda Torres, e Melhor Filme, embora não tenha levado as estatuetas. O protagonismo feminino na obra, retratando a força e a resiliência de Eunice Paiva, foi um dos aspectos mais elogiados pela crítica internacional.

A presença de Fernanda Montenegro — que já havia feito história ao ser indicada ao Oscar por Central do Brasil em 1999 — ao lado de sua filha Fernanda Torres, adicionou uma camada simbólica à narrativa, passando o bastão de uma geração de talentos para outra.

 

O impacto na cultura brasileira

 

A vitória de Ainda Estou Aqui tem um significado profundo não apenas para o cinema nacional, mas para toda a cultura brasileira. A história de Eunice Paiva resgata uma memória muitas vezes silenciada, dando voz às vítimas do autoritarismo e inspirando novas gerações a não esquecerem o passado.

Para Walter Salles, o prêmio simboliza a capacidade do cinema de transformar histórias de dor em arte e reflexão.

"A memória é o que nos torna humanos. Este filme é um tributo àqueles que nunca pararam de lutar por justiça", afirmou o diretor.

 

Uma conquista para o audiovisual brasileiro

 

Produzido pela Sony Pictures Classic em parceria com o Globoplay, o filme também representa um marco para as produções nacionais no streaming. Manuel Belmar, diretor de Produtos Digitais da Globo, comemorou o reconhecimento internacional.

"Investir, viabilizar e abrir espaço para o talento brasileiro é a missão da Globo há tantos anos, e é motivo de grande orgulho ver esse talento ser reconhecido entre os melhores do mundo", declarou.

A vitória de Ainda Estou Aqui no Oscar não apenas eleva o cinema brasileiro ao mais alto patamar da indústria cinematográfica, como também reforça o poder do cinema como ferramenta de resistência, memória e transformação social.

Com essa conquista, o Brasil escreve uma nova página em sua história cultural, celebrando a arte que dá voz aos que nunca se calaram.